Os dois movimentos da água
O movimento I - Inerente
O movimento da água é fluído e inerente. O conhecemos muito antes de nascer, muito antes da luz da consciência penetrar em nossa mais profunda escuridão. O estranho é pensar que não temos nem escolha em adentrar ou não no movimento. Ele está tão profundo em nosso inconsciente, lá no mais fundo do âmago do nosso ser, que simplesmente acontece e nos toma por completo. Às vezes com aviso (para os mais atentos), às vezes sem. A fluidez da água vem e traz com ela sua ambiguidade – escura, mas trazendo luz consigo; fria, aparentemente, mas ardente em seu primeiro tocar. É o primeiro e mais forte chamado.
O movimento II - O Chamado
O caminho de volta começa numa noite fria, em que você está sentado despreocupadamente esperando alguém chegar – quando de repente, a água alcança seus pés para te lembrar que o movimento existe.
Ele é fluído, sinuoso, espontâneo. Não existe controle, não existe o esperar. Quando decide aparecer, ele só vem. Com todo o seu gingado e tranquilidade, como quem não quer nada. É só quando você finalmente sente essa água despretensiosa bater nos seus pés que percebe que ela te chama para participar ativamente do movimento com ela. A água deseja te envolver em todos os seus mistérios, como se quisesse que você fizesse parte também de um grupo seleto que estuda o movimento.
Você sente o chamado. Você percebe a água – e ela não te assusta justamente por chegar de mansinho. Quando ela te dá o toque, você se afasta um pouco para ver o que o cenário vai te apresentar. E como se estivesse vendo um filme, percebe que aventuras que envolvem ciganos, heroínas, anti-heróis e bandidos se desenrolam sob seus olhos.