Um vegano me dispensou.
Não que estivéssemos namorando, mas havia alguns meses de histórias, viagens e aventuras gastronômicas.
Sou dona de diversos livros de receitas vegetarianas/veganas há muitos anos, mas nunca me assumi do movimento. Até porque, para conseguir sustentar viver dessa forma, precisa-se mais do que simpatizar com a comida. É necessário entrar de corpo e alma na luta.
Mas quando estávamos juntos, era muito fácil incorporar a veganinha. Os restaurantes eram mais interessantes – nesses lugares, é fácil encontrar traços da luta contra a exploração do agronegócio, por exemplo –, as comidas eram mais criativas e as pessoas desse contexto eram, geralmente, muito boas de papo.
Minha versão vegana ainda durava um tempo depois que cada um voltava para sua respectiva casa e vida. A cada dia que passava, eu investia mais nos meus pratos veganos – fiz spaghetti à bolognesa com proteína de soja, strogonoff de tofu, bolinhos de feijão, entrevero com pinhão –, e investia também naquele afeto que me alimentava com pasta de amendoim, café especial e noites quentes.
Porém, a vida acontece. A comunicação foi ficando mais escassa, até que chegou o derradeiro “é melhor nos afastarmos um pouco”. Li a mensagem e fiz duas perguntas que eu considerava importante. Fui respondida, e apesar de não estar satisfeita com a devolutiva, optei por não discutir e prolongar mais aquele desconforto. Encerramos.
Mas ficar parada? Eu é que que não ia! Decidi mandar mensagem praquele contatinho das antigas. “Pera, mandar mensagem não, vou é ligar!”, pensei, já com água na boca e descobrindo o tanto que eu estava com saudades dele.
“Oi, é do Picadinho Lanches? Me vê um burger duplo com bacon, por favor.”